25/06/2010

À medida que o homem morre para o eu, ele cresce em vida diante de Deus.
G. B. Cheever
Todas as grandes virtudes trazem a marca registrada da abnegação.
William E. Channing
É mais fácil dar qualquer coisa que tenhamos do que dar-nos a nós mesmos.
J. Blanchard
A morte perde metade de suas armas quando negamos em primeiro lugar os prazeres e interesses da carne.
Richard Baxter
Quando o "eu" não é negado, ele é necessariamente adorado.
Anônimo
A águia e a tartaruga
Uma águia agarrou em uma tartaruga; mas embora faminta, não sabia como haver-se para comê‐la; porquanto na eminência do perigo, a tartaruga se encolhia toda na sua concha, e nem bico nem garras podiam romper essa muralha. Vendo‐a assim, lidar debalde, outra águia matreira lhe disse: A presa é boa, minha filha; carne de tartaruga é manjar delicado; mas nunca poderás pôr‐lhe o bico se te eu não valer. ‐ Pois vale‐me e dou‐te metade da presa. ‐ Vá feito : sobe o mais que puderes nas nuvens, e de cima deixa cair a tartaruga, a concha ficará quebrada. Dito e feito; a pobre tartaruga, mal defendida contra tamanho baque, foi o almoço de ambas.
MORALIDADE. ‐ Em tudo menos vale a força de que o jeito; em tudo a experiência é proveitosa.
A serpente e a lima.
Entrando uma serpente na casa de um ferreiro mordeu em uma lima, e como lhe esta resistisse, com mais força lhe aplicou os dentes; porém em vez de conseguir cravá‐los, ficaram‐lhe eles abalados, e a boca cheia de sangue. Então a lima lhe disse: e o que fazes, néscia, não vês que sou de aço, e de boa tempera! Nem todas as serpentes do mundo me podem fazer mal; inerte lhes resisto, e se persistem, em pouco tempo ficam desdentadas.
MORALIDADE. ‐ Uma vida honesta e pura é como a lima: por mais que a serpente da calúnia lhe queira cravar os dentes, nada consegue.
Os membros e o estômago.
As mãos e os pés revoltaram‐se um dia. Trabalhamos tanto, estamos em contínuo lidar e tudo é em proveito do estômago, que ai fica folgado, empregando em vantagem sua quanto adquirimos. Não estamos mais por isso, queremos folgar, e viva o estômago como puder. Admoestações, rogos, instâncias, nada valeu. O estômago ficou em jejum; mas para logo todo o corpo caiu em debilidade; braços, pernas, pés e mãos foram dos primeiros a sentir um entorpecimento, uma languidez que os
assustou; compreenderam que iam morrendo; voltaram pois ao seu antigo ofício, e dentro em pouco, graças ao condescendente estômago, se acharam restituídos à antiga robustez.
MORALIDADE. ‐ Todos somos membros de um vasto corpo, que é a sociedade; cada um exerce funções especiais, mais subidas, mais humildes, porém todas indispensáveis para a prosperidade e até para a existência de todos.
A mosca e o coche.
Ia um coche com excesso carregado, e as vigorosas mulas que o puxavam por entre as pedras e lamas do caminho, pouco adiantavam. Animava‐as o cocheiro com a voz, incitava‐as com o chicote. Entretanto esvoaçava de uma para outra, em continua lida, uma mosca importuna fazendo o seu zunido. Por fim, venceu o coche as dificuldades do caminho: Graças a Deus, exclamou a mosca: cansei‐me e afadiguei‐me; mas enfim eis ai desembaraçado o coche; como não estariam essas pobres mulas, e esse pobre cocheiro, se lhe não tivesse valido!
MORALIDADE. ‐ Moscas destas não são raras de encontrar em toda a casta de negócios.
O ladrão e o cão.
Quis um ladrão entrar em uma casa; mas para guardá‐la havia um cão, que com seus latidos o impedia. Para fazê‐lo calar‐se, o ladrão atirou‐lhe um pedaço de pão. Bem te entendo, disse o cão, queres que por esse pão te venda o meu senhor que me dá de comer toda a minha vida, e que me confiou a defesa do que é seu; guarde teu pão; hei de ladrar até que acorde a gente da casa; e se te pilho, fisgo te os dentes que te hão de curar do ofício. Não podendo corromper essa fidelidade, nem iludir essa
vigilância o ladrão foi ver se achava alguma casa mais descuidada.
MORALIDADE. ‐ Não acredites de leve na generosidade de quem mostra querer obsequiar‐te.
A rã e o rato.
Desejava um rato passar um rio; porém tinha medo, não sabia nadar. Ofereceu‐lhe uma rã os seus serviços, pronta a levá‐lo para outra banda, se quisesse atar‐se com ela. Consentiu o rato, e com um cordel amarrou uma das suas patas, e atou na outra ponta o pé da rã. Entraram na água; a maliciosa rã, escarnecendo do companheiro, procurava, mergulhando, puxá‐lo para o fundo e afogá‐lo. O rato forcejava em resistir-lhe. Nesta lida estavam, quando vem voando um gavião; dá com eles, e de ambos faz seu almoço.
MORALIDADE. ‐ Raramente os maus triunfam: se conseguem prejudicar os bons que neles se fiam, acham logo outro mau que os castiga.
O leão, a vaca, a ovelha e a cabra.
Fizeram sociedade (quem tal diria?) uma cabra, uma vaca e uma ovelha, com o leão, rei dos animais, e de parceria se puseram a caçar. Pilharam um veado, e para logo felicitando‐se e esquecendo o cansaço, dividiram‐no, em quatro partes. Chegou o leão e disse: " Esta é minha, pela lei do nosso ajuste: esta outra quero‐a para mim, porque sou rei dos animais; a terceira me haveis de dar em obséquio à minha valentia; e quem tiver o arrojo de bulir na quarta há de haver‐se comigo." Os parceiros calaram-se: e que haviam de fazer? antes perder o seu quinhão do veado, do que ter a mesma sorte que ele.
MORALIDADE. ‐ Em tudo lidai com os vossos iguais; pois sereis os primeiros que pagareis a superioridade de vossos aliados.
O galgo velho e seu amo.
Bom caçador fora outrora um galgo; sempre farejava e descobria a presa, e quanto farejava, pronto fisgava. Seu amo enchia‐o de afagos e carinhos. Mas para os galgos, como para a gente, passam os anos, chega a velhice; o pobre galgo perdeu o faro, perdeu os dentes, e já não descobria a presa; e se a descobria, a não apanhava. Uma vez, um coelho, que ele conseguira apanhar, safou‐se‐lhe da desdentada boca. O amo chega, e irado o açoita.
Senhor, disse-lhe chorando o velho, pois não mereço, em atenção aos serviços passados, não mereço alguma compaixão?
MORALIDADE. ‐ A lição deste galgo vos diz como sereis tratados por aqueles a quem já não puderdes servir.

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