O parque estava quase deserto quando me sentei num banco embaixo dos ramos de um velho carvalho, desiludido da vida, com boas razões para chorar, pois parecia que o mundo estava conspirando contra mim.
Eu queria ficar só, mas, um garoto ofegante se chegou, cansado de brincar, parou na minha frente, cabeça pendente, e, cheio de orgulho, disse-me:
- Veja o que encontrei, e estendeu em minha direção uma flor horrosamente decaída, macetada, nas últimas.
Querendo me ver livre do garoto o quanto antes, fingi um pálido sorriso e tentei iniciar a leitura de um livro de auto-ajuda, mas, ao invés de ir embora, ele se sentou ao meu lado, levou a flor ao nariz e disse:
- O seu cheiro é ótimo. Fique com ela!
Então, estendi minha mão para pegá-la e respondi com ironia:
- Obrigado, menino, essa flor era tudo o que eu precisava para completar o meu dia.
Mas, ao invés de estender o braço, ele manteve a flor no ar, para que eu a pegasse de suas mãos. Nessa hora notei, pela primeira vez, que o garoto era cego.
- De nada, disse ele sorrindo, feliz por ter feito uma boa ação.
Uma ação tão boa que me fez ver a mediocridade dos meus pensamentos e das minhas atitudes diante dos reveses da vida.
Bem-aventurados os olhos
que vêem o que vós vedes.
Lucas 10.23
Autor desconhecido.
Extraído do livro: Textos Selecionados, elaborado pelo
Instituto de Desenvolvimento do Potencial Humano - IDPH
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